terça-feira, 2 de julho de 2019

"OUVIRTUDE"

Saudações Amigas(Os)!!!



"OUVIRTUDE"


Um dos maiores problemas de comunicação , tanto a de massas como a interpessoal, consiste em descobrir como o outro ouve, se é que ouve...

A mesma frase permite diferentes níveis de entendimento. Raras, raríssimas, as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.

Observe que em geral o receptor :

  • Não ouve o que o outro fala.  Ouve o que o outro não está dizendo.
  • Não ouve o que o outro fala. Ouve o que ele quer ouvir.
  • Não ouve o que o outro fala. Ouve o que já escutara antes e o coloca no que o outro está falando.
  • Não ouve o que o outro fala. Ouve o que imagina que o outro ia falar.
  • Não ouve o que o outro fala. Ouve o que gostaria de ouvir que o outro dissesse.
  • Não ouve o que o outro fala. Apenas ouve o que está sentindo e pensando a respeito do que já pensava a respeito.
  • Não ouve o que o outro fala. Ele retira da fala apenas as partes que tenham a ver consigo e; concordem, emocionem, agradem ou molestem.
  • Não ouve o que o outro está falando, mas o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pelo emissor. Concordância ou discordância camufla-se de racionais, porém são empáticas. O mundo é regido tanto pela economia quanto pela empatia. Argumentos são disfarces intelectuais da simpatia.
  • Não ouve o que o outro fala, e sim, apenas, os pontos que possam fazer sentido para as idéias e visões que no momento estejam influenciando ou comovendo.
  • Numa discussão, os "discutidores" não ouvem o que o outro está falando. Ouvem o que estão pensando para dizer em seguida.
Estes 10 itens mostram como é raro e difícil conversar.
Como é raro e difícil se comunicar!
O que há, em geral, são monólogos simultâneos, à guisa de conversa ou monólogos paralelos, à guisa de diálogo.
O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Pode haver até um conhecimento a dois sem que necessariamente haja comunicação. esta só se dá quando ambos os pólos ouvem-se, não, é claro no sentido material de "escutar", mas no sentido de procurar compreender em sua extensão e profundidade o que o outro está dizendo.
Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. O filtro do preconceito não está na mente e sim no ouvido.
Ouvir implica numa entrega ao outro, numa diluição nele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A inteligência em funcionamento, o hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar interferem, como ruído, na plena recepção do que vem de fora. E mesmo de dentro... Ouvir-se é tão raro e difícil quanto ouvir o outro.
Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audiência. Outros elementos perturbam o ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa. Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem a si mesmos. Elas precisam "Não ouvir" porque "não ouvir" livra-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem e assim por diante. Livra-se do novo, que é saúde, mas as apavora. Não ouvir é, pois, sólido mecanismo de defesa. 
Ouvir que é um desafio de abertura interior; de impulso na direção do próximo, comunhão. Ouvir é proeza e virtude. Deveria haver a palavra "ouvirtude" ... Ouvir é realidade, ato de sabedoria.
Só depois que se aprende a ouvir começa a sabedoria. Descobre-se, então, o que os outros estão dizendo a propósito de falar.

Extraído do livro "Amor a Sim Mesmo".
Arthur da Távola


Namastê!

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